Saiu hoje um texto no Rio Fanzine, espaço único nos jornais do Rio para a cultura alternativa, sobre o movimento global guettotech. Leia o texto na sua íntegra, assinado pelo símio Chico Dub (logo mais a Cheetah escaneia a matéria e entope o post de links).

arte exclusiva de leonardo eyer
Da mesma maneira como o termo world music, bastante usado nos anos 80 (alguém aí ainda usa?), o rótulo global guettotech surgiu para facilitar a absorção de ritmos musicais pertencentes a países desconhecidos culturalmente por boa parte do mundo. As facilidades de acesso à tecnologia e o advento da internet, abriram novos caminhos de produção e comunicação para os povos ditos periféricos. Em todos os cantos do mundo, artistas têm produzido música em laptops ou estúdios caseiros se utilizando das tecnologias digitais como base. Os resultados são diferentes, porém a essência é a mesma: cada um desses países se apropriando da cultura pop globalizada e costurando a sua própria versão.
Dessa forma, o global guettotech é uma versão atualizada, urbana, e urgente da world music, na qual o folclore musical de inúmeros países se mescla à música eletrônica e ao hip hop. Assim como o nosso funk carioca e o tecnobrega, e os mais antigos soca (Trinidad & Tobago), dancehall (Jamaica) e reggaeton (Porto Rico), ritmos como kuduro (Angola), cumbia digital (Argentina), kwaito (África do Sul), coupe decale (Costa do Marfim), bongo flava (Tanzânia), speed merengue e speed mambo (República Dominicana), e o mahgreb (norte da África), tem explodido de uns anos para cá.
Mais importante do que autenticar ou não o global guettotech, rótulo polêmico pelo caráter guarda-chuva e pela leitura preconceituosa que alguns podem ter, o fato é que nunca se prestou tanta atenção nos últimos 20 anos à produção musical realizada fora do eixo EUA– Europa.
Fora a música jamaicana em geral, que – após o The Clash, as bandas do movimento two-tone ou mesmo Eric Clapton (com a cover de “I shot the sheriff”)– se incorporou magnificamente ao pop mundial, ritmos locais caribenhos, sul-americanos, africanos e asiáticos vêm se destacando. Isso tem se refletido em festas, festivais de novas tendências, podcasts, blogs de MP3 e na própria sonoridade de artistas pertencentes a esse eixo. Os podcasts do inglês Sinden (Kiss FM), do blog francês Masala e do americano Mad Decent (Diplo); as festas Que Bajo? (Nova Iorque), Tormenta Tropical (São Francisco) e Zizek (Buenos Aires); o som de artistas como M.I.A., Vampire Weekend, Dengue Fever, Buraka Som Sistema, Radioclit; a escalação de festivais como o alemão Transmediale e o espanhol Sónar; os sets dos artistas e pesquisadores musicais Maga Bo, Ghislain Poirier, DJ/ rupture, Filastine e Wayne&Wax (o cunhador do termo), estão aí para comprovar.
O mundo hoje está mais aberto a experimentações rítmicas. E a questão da língua, que sempre foi um problema para os grandes mercados, está ficando em segundo plano: a música tem falado mais alto. Portanto, abra a cabeça, entre na internet e tenha uma boa viagem.
Muito bom o texto! Parabens ao Chico Dub, ficou um resumo bem completo dessa tendencia mundial de finalmente parar de supervalorizar e imitar os “colonizadores” e partir pra produzir algo no contexto da cultura local.. há exatos dois anos escrevi uma matéria sobre essa tendencia ( http://www.submusica.com/conheca-os-ritmos-da-periferia/ ) e alguns meses depois tambem uma sobre o Maga Bo, um otimo exemplo que foi dado no texto. ( http://www.submusica.com/maga-bo-e-a-torre-de-babel-musical-mixtape-e-entrevista/ ) e que bom que vai comecar a acontecer mais, finalmente, por iniciativa de voces e mais ume pessoal que ta cada vez mais pesquisando e descobrindo sons pelo mundo todo.
sucesso!